S11D (ou projeto para salvaguardar pedras)
_projeto_2014 | em processo_RaioVerde [Camila Fialho e José Viana]
_projeto_deslocamento_instalação_2014 : primeiro movimento
Apresentada no Salão Arte Pará 2014, a instalação S11D (ou projeto para Salvaguardar Pedras) traz para o campo do sensível o contexto de implementação do
projeto de mineração S11D, localizado na Serra Sul da Floresta Nacional de Carajás, sudeste do Pará. O trabalho se utiliza das instâncias legitimadoras do sistema das artes par viabilizar a salvaguarda permanente de um pequeno conjunto de pedras retiradas desta região.
Após ser selecionado, o projeto se desenha por um longo percurso de Belém a Parauapebas. Transita pela burocracia institucional na busca de uma autorização de acesso e coleta.
Desloca-se pelas paisagens da floresta, por minas desativadas e savanas inexploradas.
Passa pelo embate do humano, do objeto matéria-peso e das formas de minério concentrado em pedras de tamanhos variados. Conduz a seleção estética por preferências subjetivas e possibilidades objetivas de transporte. Em Belém, as pedras resgatadas ganham a sala que lhes foi destinada pelo salão, dentro do Museu Histórico do Estado do Pará. Tomam forma de instalação e são reconhecidas enquanto obra de arte.
_ segundo movimento
Dispondo de sua nova condição simbólica, as pedras são encaminhadas para doação para acervo da Casa das Onze Janelas, encerrando assim o ciclo processual da obra S11D. Do solo mineral da canga metalófila de Carajás, as pedras são ressignificadas e oferecidas ao Estado do Pará através do Sistema Integrado de Museus e Memoriais e da Secretaria de Cultura do Estado.
registro do presente – a doação das Pedras ao Museu | exposição_2015
A convite de Armando Queiroz, a exposição Registro do Presente é pensada para celebrar a doação de S11D (ou projeto para salvaguardar pedras) para o acervo da Casa das Onze Janelas. Sob o zelo da instituição museal, a instalação S11D assume nova roupagem, se expande por dentro de redomas de vidro, como em breves instantes cristalizados em vitrines de um tempo. Nestes pequenos mundos, vagas lembranças do solo de onde as pedras foram deslocadas, outras relações de proporção se estabelecem na harmonização das matérias – ferro, vidro e terra. O grande aperta-se entre camadas translúcidas, o pequeno respira o vazio do cubo da parte que sobra.
O livro de fotografias traz para a cena expositiva a memória visual do processo, em trajetos percorridos e palavras divagadas. Sem restrições proibitivas ou de acesso, uma pedra se oferece ao toque das mãos, à curiosidade dos dedos que podem perceber as sutilezas possíveis do ferro em estado bruto.
Nas escadas, entre o concreto das paredes e o metal dos degraus, ecoa o ruído de um trem que passa ininterruptamente e conduz, por entre trilhos, o minério brasileiro para além mar na direção de outros mercados.
sobre o deslocamento de pedras
Diariamente, 24h sobre 24h, pedras são desarraigadas do solo mineral brasileiro e enviadas para outros territórios. Depois de trituradas, são transportadas em caminhões, sobem e descem esteiras, ocupam vagões de trem, deslocam-se por trilhos, são acondicionadas em cargueiros, atravessam oceanos, espalham-se mundo afora, são manufaturadas e, muitas das vezes, tomam o caminho inverso, voltam ao Brasil, sob outro formato, onde são novamente compradas para consumo da indústria local.
As pedras do S11D, interceptadas por este projeto, acabam por se deslocar sobre outra vereda. Emergem para o universo poético desde um caminho truncado, depois de percorrerem pouco mais de 720km de estrada. Aportam em Belém e aqui ficam. Transfiguram-se em instalação, adquirem novas dimensões imagéticas. Adentram o campo do sensível. Valorizam-se. São doadas e ganham uma casa. Entram para o museu e assumem outra roupagem. Salvaguardadas também enquanto memória de um tempo, são o registro do presente.
textos: Camila Fialho
registros: RaioVerde
https://projetoparasalvaguardarpedras.tumblr.com