Headshots 


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Catálogo Abre Alas 2012, galeria A Gentil Cariora, Rio de Janeiro/RJ, 2012.
Marcelo Amorim - primeira infância. Org. Paulo Gallina. São Paulo: Ateliê397/Zipper Galeria, 2014.
sobre a obra Headshots de Marcelo Amorim

Em dimensões reduzidas e de mesmo tamanho, cabeças de papel se projetam no espaço expositivo na forma de esculturas fotográficas. Na parede, o mapa aberto de uma cabeça indica trajetórias possíveis de um jogo minucioso de dobraduras. A estranheza fixa a primeira impressão do olhar ao se deparar com as pequenas peças esculpidas por Marcelo Amorim.

Em meio à proliferação das mais diversas identidades virtuais das redes sociais do contemporâneo, o artista brinca na construção de um avatar múltiplo. Em seu trabalho, a foto 3×4, estampada cotidianamente em documentos de identidade, perde sua bidimensionalidade para ganhar textura e profundidade na modelagem virtual de uma cabeça. Esta, por sua vez, volta a ter duas dimensões quando aberta em um diagrama de polígonos, formando uma espécie de quebra-cabeças em tons de pele. E da tela do computador, a cabeça volta a existir na superfície de um papel fotográfico para então ser reconstituída materialmente através de delicadas dobras, como um origami de feições humanas. Em sua nova versão espacial, já não conseguimos mais identificar os traços do rosto que estava à origem da pequena escultura. Trata-se de um ser-objeto outro que materializado adquire um ar robótico. A substância humana identificável se apaga, e o que agora temos são cabeças cibernéticas volantes, cabeças quase suspensas, quase sem peso, cabeças ocas, despidas de uma identidade orgânica.

O bruto do objeto multifacetado alinhado com a sutileza dos tons de pele nos incita a buscar os traços humanos dissipados nas camadas de manipulação da imagem. Por mais que seja possível identificar feições de seu criador, o que vemos ali é um ser hesitante em suas definições. As dimensões do real suposto pela fotografia diluem-se nas mãos do artista dando uma nova roupagem a sua identidade. Talvez pudéssemos pensar em um autorretrato, mas as cabeças-objetos acabam por se explicar outras figuras, semelhantes, não iguais.

Headshot constitui-se no limiar de universos híbridos. Híbrido em seu processo que transita por diferentes mídias: da captação fotográfica, passando pela customização computacional, ao gesto físico e fino que devolve ao ser fotografado a materialidade de um rosto cibernético. Híbrido enquanto obra fotográfica e escultural. Híbrido ainda naquilo que nos evoca do identitário de nós mesmos que se desvanece na construção de novas realidades aparentes onde o real e o virtual, o natural e o artificial se confundem, onde a identidade se torna criação.

por Camila Fialho

foto: Marcelo Amorim


https://marceloamorim.art.br