.Aurora:
exposição coletiva de artistas-gestores do espaço .Aurora, inauguração
curadoria Camila Fialho e Cláudia Afonso
Claridade que aponta o início, primeiras manifestações, o princípio. Ponto de encontro, de cruzamento, de troca – um novo ponto no centro da grande Pauliceia.
A exposição inaugural do espaço .Aurora traz a público um recorte da produção dos artistas Bel Faleiros, Diogo Lucato, Francesco Di Tillo, Gabriel Gutierrez e do escritor Geoff Stone, em interseção com o grupo. Em suportes variados, apresentam suas práticas, pesquisas poéticas e, para além dos trabalhos expostos, abrem as portas para que o visitante possa conhecer também seu ambiente de trabalho.
O tríptico Trocas – ventura, mine, paralelo, de Bel Falleiros, realizado em resposta a mensagens de Geoff Stone, compõe agora uma obra fundida em uma só materialidade. O texto sobre a colagem, bidimensional, confere corpo ao diálogo preestabelecido, um dizer uníssono em um único corpo de fruição, um objeto concebido na troca de linguagem e de significantes.
Os dois trabalhos de Diogo Lucato, da série Zona de Exclusão, trazem uma sobreposição de tempos conjugados com o que ainda resta de Mata Atlântica. Os 50 km radiais às usinas de Angra dos Reis que passariam a ser inabitáveis em caso de um acidente nuclear são o foco das lentes do artista. Um alerta sobre incertezas do porvir no suporte fotográfico. As camadas do tempo de captação da imagem ficam marcadas no registro de instantes que se confundem no novo arranjo das folhas e das sombras.
O trabalho de Francesco Di Tillo, Posters, foi criado a partir de uma intervenção urbana realizada em Nova York na qual o artista colava nos muros da cidade breves anúncios sobre os suicídios cometidos em decorrência da última desvalorização da bolsa de valores. Os cartazes fotográficos derivados da ação, são agora ressignificados no espaço expositivo e no contexto brasileiro de forma que a plasticidade rasgada de muros estrangeiros são acondicionadas no entre-paredes do urbano paulista. Trânsito.
Oração, vídeo que nasce da sobreposição e do reverso de falas de dirigentes internacionais sobre o islamismo, ecoa discursos abstratos na pequena sala entre tapetes como numa meditação de preces desconhecidas. Di Tillo confronta aqui dizeres num sopro vazio, quase meditativo, acerca de uma religião que tensiona as relações internacionais.
Rito, de Di Tillo, reforça sua crítica ao sistema de valores de forma mais ácida e pontual, agora apontando não mais para uma realidade local, mas para referências universais do mercado. A forca de gravata suspensa desde a parede confronta a fineza do tecido com aquilo que o objeto aprisiona.
De modo que a palavra virou carne e Carne rasgada, nervos tortos, osso magoado de Gabriel Gutierrez dão lugar a uma nova leitura do universo popular ao aprisionar objetos que mesclam fotografia, madeira e vidro ao imaginário dos ex-votos e dos dizeres de benzedeiras.
Suspensas em diálogo com as janelas, as placas translúcidas de Bel Falleiros formam um novo corpo no espaço, um corpo que comunica, entre suas camadas compondo um único desenho, aquilo que está fora do ambiente expositivo conduzindo o olhar para rua Aurora.
De dentro para fora, CUIDADO. Um berro silencioso na leitura dos lábios do artista Gabriel Gutierrez, frames de uma voz interrompida, do outro lado da rua, expandindo a exposição para além-muros, assim como o espaço que a abriga.
por Camila Fialho e Cláudia Afonso
02 de junho de 2013.
artistas: Bel Falleiros, Diego Lucato, Francesco Di Tillo, Gabriel Gutierrez e Geoff Stone (convidado)
https://www.pontoaurora.com/abertura/